Palestra com Sobreviventes da Segunda Guerra Mundial
- Lidiane Soares
- 10 de jul. de 2015
- 5 min de leitura

Quando estamos na aula de história falando a respeito da Primeira e Segunda Guerra Mundial, temos a impressão de que ocorreu há muito tempo e que não afeta nossa vida hoje, mas não, esses acontecimentos fazem parte da nossa situação atual. No momento em que se escuta pessoas que viram isso de perto contando na sua frente tudo que passaram, você se dá conta que tudo o que ocorreu é muito recente, que anos antes de você e de seus pais nascerem a história foi trágica e as guerras destroçaram o mundo. É estranho de certa forma pensar que tudo isso está tão próximo da nossa realidade atual.
No dia 23 de junho tive a oportunidade de comparecer a uma palestra com três sobreviventes do Holocausto. Eles passam por várias cidades no Rio Grande do Sul visitando escolas e contando suas experiências de vida em uma palestra intitulada: Painel Compromisso Moral e Lições de Solidariedade. O principal objetivo deles é promover a paz e para isso trazem os relatos de todos os horrores que vivenciaram.
Contarei brevemente um pouco da história de cada um deles, todas muito comoventes, fazendo-nos refletir sobre a vida e o que fazemos para promover a paz.
Johames Melis: Natural da Holanda, contou como foi a vida com sua família em plena guerra. No inicio, muitos acreditavam que o acontecimento não atingiria a Holanda, mas seu pai, preocupado em proteger a família, criou vários esconderijos pela casa para o caso de emergência.
Em 1940, a guerra chegou à Holanda como o pai havia previsto e os alemães invadiram sua cidade natal. O exército cassava homens acima de 16 anos, mas felizmente o pai de Johames foi isento de ser recrutado, vindo a receber um documento que comprovava isso.
No país, a população holandesa formou um exército secreto contra os alemães, o qual o pai de Johames fez parte. O mesmo salvou e escondeu pilotos ingleses, canadenses e americanos que caiam perto de sua casa quando os aviões Aliados eram abatidos no ar. Quando os alemães iniciaram a caça aos Judeus, eles abrigaram duas famílias judias em sua casa. Tempos mais tarde, o exército descobriu a participação de seu pai e queriam prende-lo. Muitas vezes fizeram vistorias em sua casa, levando todos a se esconderem no porão.
Com o aumento dos combates próximos a sua casa, precisaram fugir para uma construção perto do rio. Logo, a falta de comida e água levou o pai de Johames a buscá-los. Numa dessas saídas, soldados o capturaram e encontraram seu esconderijo. A família foi avisada de que seriam buscados pela manhã e encaminhados a um campo de concentração. Desesperados, a mãe orou muito e o pai saiu mais uma vez a procurar água. Dessa vez, foi novamente encontrado, mas por soldados americanos que salvaram a família.
Curtis Stanton: Nasceu em 1929 em Hamburgo, na Alemanha. Devido ao fato de ser judeu,envolveu-se em muitas brigas na escola e por isso teve que frequentar uma escola judia muito longe de sua casa. Com o aumento das influências de Hitler, passaram a ser identificados com uma estrela de seis pontas na camisa.
Em 1938, seus pais enviaram seu irmão e irmã para a Inglaterra e em 1941 os mesmos receberam uma carta da polícia para comparecerem na praça com apenas uma mala para os três e deixar sua casa aberta.
Na praça,após umas horas de pé esperando, foram forçados a entrar em vagões de gado com capacidade para 70 pessoas em uma viagem de 36h de duração, sem comida, bebida e local para fazerem suas necessidades. Logo chegaram ao Gueto de Lodz. Curtis, com apenas 12 anos de idade na época, teve que trabalhar durante a madrugada em uma fundição. Após isso,foi encaminhado para uma fábrica que criava caixas de armamento. O trabalho era em torno de 10h às 12h por dia.
Certo dia, os jovens foram levados a hospitais e de acordo com boatos que ouviram, seriam executados no dia seguinte. Curtis, desesperado, conseguiu fugir até o Gueto onde a família estava morando. Ao chegar à casa da família, ele descobre que seu pai faleceu na mesma noite, restando apenas ele e sua mãe.
Com o tempo as pessoas foram sendo retiradas do Gueto e chegou a vez de Curtis e sua mãe. Novamente foram transportados em vagões de gado até chegarem ao campo de concentração. No local, foram separados em direita e esquerda. Na vez de sua mãe, ela foi levada para a direita e ele, ao mentir que tinha 16 anos, foi para a esquerda. Infelizmente, depois disso ele nunca mais viu a mesma, pois ela foi direto para a câmara de gás enquanto ele foi encaminhado para os alojamentos.
A vida no campo era horrível, viviam com pouquíssima comida e procuravam cascas de batata no lixo para comer. Os que fugiam eram enforcados em praça pública. Com a Alemanha sofrendo algumas derrotas foi necessário mudar de campo de concentração. Os prisioneiros, que estavam sendo transportados em caminhões, começaram a serem atacados por aviões Aliados, tendo que abandonar o transporte e se esconder na mata. Na manhã seguinte acordaram sem os guardas alemães ao redor e decidiram seguir pela estrada. Logo a frente avistaram soldados americanos que mesmo não falando alemão conseguiram comunicar- se com os prisioneiros. Curtis foi enviado até a França e conseguiu contato com seu irmão na Inglaterra, encontrando-o pessoalmente apenas seis anos mais tarde.
Seu principal relato foi a dificuldade em voltar a ter uma vida normal e se relacionar com as pessoas novamente, visto que nos campos de concentração era cada um por si e o único pensamento era “Como posso sobreviver?”.
Bernard Kats: Nasceu em 1936, em Hengelo, na Holanda. Morava em cima de um banco com os pais quando em 1940 sua casa foi invadida. Seu pai, banqueiro, foi intimado a apresentar-se aos Alemães. Infelizmente, após o fazer, foi levado a um campo de concentração na Aústria e não sobreviveu muito tempo. 19 dias depois veio a falecer.
Bernard precisava ir de ônibus para uma escola judia e lembra muito bem de estar com sua irmã, sentindo-se perdido no meio de tantos desconhecidos. Foram acolhidos por uma família em uma fazenda e com o tempo não podiam mais sair de casa por causa dos exércitos. No local havia um cachorro que era treinado para latir quando soldados se aproximassem.
Diversas vezes a casa foi revistada por Alemães e eles precisavam mentir. Sua mãe viajou 150km de bicicleta para rever os filhos, mas foi o maior choque de sua vida pois Bernard não lembrava mais quem ela era.
Com os ataques dos Aliados, sua cidade natal foi bombardeada. Entretanto, evacuaram seu bairro e os moradores passaram 2 ou 3 noites dormindo na floresta. Em 16 de Abril de 1945 foram encontrados por soldados Aliados que os salvaram. Ele e a irmã voltaram a viver com a mãe e anos mais tarde imigraram para o Uruguai.
O relato é longo, entretanto histórias de vida como essas nos fazem refletir. É necessário que todos vejam as consequências das atitudes humanas e empenhem-se por um mundo melhor e em paz.
Obs: A seguir algumas fotos, sinto muito pela qualidade mas estava sem a câmera para registrar visto que foi de última hora.

Ordem da Direita para a esquerda: Johames, Curtis e Bernard.

Curtis contando sua história. Foi muito emocionante!
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